Dinâmica para pensar... Um relato sobre a busca do conhecimento

O Rubi

(Carlos Bernardo González Pecotche - Raumsol)






   Aconteceu em 1918. Nessa época, um grupo de pessoas hospedava-se num hotel situado entre montanhas, desfrutando animadas férias. Entre os alegres turistas havia um cientista, de origem helvécia (Suíça), interessado na variedade de minerais e de pedras existentes na região.
    Uma noite, enquanto jantavam, anunciou que na manhã seguinte percorria as pedreiras vizinhas do lugar, à procura de algum rubi que, supunha, ali poderia ser encontrado, como denotavam certas segregações características, cuja natureza se aproximava bastante das que costumam recobrir aquelas pedras preciosas. Os comensais acolheram a notícia com vivo entusiasmo e grandes mostras de prazer, manifestando todos o propósito de percorrer os lugares indicados, à procura de rubis.
   No dia seguinte, como era seu costume, o cientista partiu antes de sair o sol e, já na pedreira, deteve-se a examinar cuidadosamente, uma e outra vez, esta e aquela greta, a bater aqui e ali, em vários pontos, até que, finalmente , começou a perfurar com sua picaretas e verrumas (um instrumento de aço em forma de espiral, que possui a extremidade inferior pontiaguda) os blocos calcários. 
    Várias horas depois, começaram a chegar os demais participantes da busca, os quais, distribuindo-se a esmo, procuravam quebrar a golpes as pequenas rochas calcárias, desejosos todos de topar com a reluzente e rubra pedra. Em altas vozes, comentavam sobre tudo quanto haviam imaginado fazer com ela, caso a encontrassem.
   Durou aquela empresa vários dias, ao término dos quais o cientista anunciou, com grande júbilo, que havia encontrado o rubi. Exibiu-o ainda recoberto de pequenas camadas calcárias, decoradas com minerais de um tom verde-mar escuro.
   Após festejar o que todos chamaram de "a sorte do suíço", cada um expressou seu pesar por não ter sido o feliz possuidor do precioso mineral.
   Alguém, que tinha permanecido observando com atenção a cena, aproximou-se dos circunstantes e lhes disse:
  - Esse senhor é um geólogo; a ele, pois, correspondia achar o rubi, em virtude de seus conhecimentos. De posse desses conhecimentos, foi fácil para ele seguir o curso dos veios até achar a pedra cobiçada. Achou-a porque não a procurou ao acaso. A verdade é que tudo tem sua razão de ser, e, devido a isso, as coisas não acontecem por causalidade. Deste modo, para quem possui conhecimentos geológicos, por exemplo, haverá de ser mais fácil descobrir a localização de um mineral do que para quem não os possui. 
     Como todos escutavam com grande atenção as reflexões do ocasional expositor, este, após breve pausa, prosseguiu:
   - O mesmo acontece em todos os domínios do saber. Quem tem um conhecimento pode, por meio dele, descobrir outros conhecimentos, e aquele que os tenha em maior número, pela própria força que emana do saber, atrairá para os domínios de sua capacidade todo quanto se proponha. No presente caso, o conhecimento geológico fez as vezes de ímã, o qual, aplicado ao objeto da busca, o atraiu sem maior dificuldade. Desse modo, o rubi oculto nas entranhas destas rochas prontamente viu a luz pelas mãos de seu legítimo dono, isto é, daquele que o descobriu por meio do conhecimento.
    Mas a coisa não para aí - continuou dizendo - , pois a mente de todos somente concebeu a imagem de um rubi polido e lapidado, reluzindo tons policromáticos, cujos brilhos excitaram a cobiça e cegaram o entendimento de vocês. O geólogo sabia, ao contrário, que haveria de encontrá-lo dissimulado entre escuros envoltórios. E se alguém o tivesse tomado um instante em suas mãos, seria para jogá-lo fora em seguida, como se faz com tantas outras pedras que, com similar aparência, são abundantes no lugar.


                                               **********

   Depreende-se do relato que, quando se vai procurar algo e na sua busca se investe tempo e energia, é preciso o auxílio do conhecimento, para não relegar o intento ao acaso. Tudo obedece a causas e as leis das quais não é possível prescindir, sendo lógico pensar que, a maior conhecimento, maiores probabilidades de êxito haverá em cada empresa. Quem busca às cegas nunca achará o que se propôs a buscar e se por causalidade tropeça com seu objeto, não percebe a oculta realidade de sua existência ou afasta de seu lado, ignorando o valor contido em sua aparente fisionomia.


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 Perguntas para pensar:
1. Como as pessoas imaginavam o rubi e como o cientista a imaginava? Qual era o ponto de vista deles ?

2. Por que o cientista achou o rubi?  

3. Quem busca às cegas  achará o que procura? 

4. O que é preciso fazer para encontrar o que busca?
           


                                                     


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